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sábado, 10 de maio de 2008

A voz de Portugal sem herdeira









Não há palavras para adjectivar Amália Rodrigues. Pode-se dizer que seria um "sacrilégio" atribuir-lhe apenas alguns predicados quando a sua imensidão de talento dava para escrever infinitos livros. Nestas linhas, poder-se-ia falar do seu percurso, do seu fado, da sua música, mas isso já é do conhecimento geral.
Homenagear esta grande diva é uma tarefa difícil mas, talvez, escrever sobre a Amália menina, a Amália jovem seja a melhor forma.
Em 1920, no tempo das cerejas (Maio e Junho), em Lisboa, mais principalmente na Rua Martim Vaz, nasce uma criança do sexo feminino, filha de um pai sapateiro que anseia vingar no mundo da música, através dos sons do seu cornetim.
Aos 6 anos, a menina de olhar dócil com um breve toque de uma timidez expressa, canta, em casa, às escondidas tangos de Carlos Gardel. Os que passam pela rua param no tempo para a ouvi-la.
A ida para a escola traz uma nova cor à vida da "eterna cantadeira". O mundo das aulas que adorava, era o escolhido para elevar as suas fantasias a outros lugares sem que tivesse que pedir licença ou desculpa a alguém.áAs lições eram aprendidas rapidamente razão pela qual lhe foi dada a alcunha de "Sabichona".
A sua bondade incontestável deus os primeiros sinais quando a caminho das aulas, ao encontrar uma rapariga toda rota, ainda mais pobre do que ela, tirou o vestido que trazia por baixo da bata e deu-lhe. A sua boa acção valeu-lhe vários tabefes dados pela avó.
Aos 14 anos, mais bofetadas apanha do irmão mais velho, por fazer aquilo que mais gostava e que melhor sabia fazer - cantar na rua.
Ser artista é o seu grande desejo e aos 16 anos, ao ver a Dama das Camélias com a Greta Garbo, bebe vinagre e pôe-se nas correntes de ar, para ficar tuberculosa como a sua heroína.
Em 1938, apaixona-se pelo guitarrista e torneiro mecânico Francisco Cruz, e desesperada tenta o suicídio por desgosto de amor.
Um ano mais tarde, o Estado Novo cria a carteira profissional de fadista. O Fado salta assim das ruelas e vielas de Lisboa para as chamadas "casas de fado". É precisamente no "Retiro da Severa", que em 1939 Amália faz a sua estreia profissional. No ano seguinte actua no "Solar da Alegria", como artista exclusiva com repertório próprio.Impressiona todos, porque para Amália o fado "não se cantava, acontecia. O fado sente-se, não se compreende, nem se explica".
A partir desse momento, torna-se uma cidadã do mundo. Amália Rodrigues nunca mais parou em direcção ao último patamar do estrelato, e muitos acreditam que, mesmo agora, ela nunca vai parar...
A 6 de Outubro de 1999, a menina que no caminho para a escola gostava de comer figos e roubar florinhas para dar à professora despediu-se de todos com um até já...

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