Sal. Quem por lá passa afirma não ficar indiferente às praias, com extensos areais brancos e à água cristalina, carregando rasgos de sossego.
A vila de Santa Maria sempre movimentada, com a chegada e partida de centenas de turistas, que anseiam pelo tal descanso merecido, mas também, por alguma diversão fora de horas.
Ruas e vilelas cheias de gente, os hoteís a crescerem a “olhos vistos”, a rede imobiliária a agarrar cada oportunidade que surge e os comerciantes felizes e contentes com os seus negócios.
Deseja-se a vida turística de outros tempos... Recorda-se o passado áureo, critica-se o presente e... sonha-se com um futuro fora das teias da crise.
Exige-se um Sal digno de um cartão postal, que corresponda ao que é divulgado pelas agências de viagens.
Porém, as vivências de um passado “bon vivant” constrastam agora com uma ilha apagada, sem cor nem vida.
Uma... duas.. três... quatro.... cinco e.... muito mais. As obras estão paradas.... ou foram canceladas sem data prevista para retomarem. Os hoteís procuram sobreviver com os poucos turistas que recebem e as imobiliárias estão em situação de ruptura.
Quebra de vendas. Nítida inflexível. Muitos dos potenciais compradores de moradias e apartamentos nos resorts e complexos que estão a nascer no Sal, recuaram nos negócios dada a crise financeira e a dificuldade em obter crédito nas instituições bancárias internacionais.
Fala-se em catástrofe financeira, sente-se nos rostos com quem se fala que a situação é preocupante. O Sal está estagnado.
Os hoteis. Após percorrer uma estrada de cerca de dois quilómetros, cheia de buracos, em que os sobressaltos são uma constante, deparamo-nos com várias unidades hoteleiras. Cada uma com o seu toque, com o seu brilho, mas todos com um cartaz implicito a dizer “precisa-se de turistas”.
A crise bateu-lhes à porta e fez-se de convidada à força. Nos últimos meses, a taxa de ocupação caiu drasticamente. As unidades hoteleiras tentam arranjar soluções para cativar os turistas. Sobreviventes a um período em que as reservas de quartos são mínimas.
Enquanto isso quem mais sofre são os funcionários que todos os dias vão para o trabalho sem saber se será o seu último dia.
Na lista dos afectados pela crise está Salui Balé. Um guinense que escolheu Cabo Verde para viver e trabalhar... Já lá vão 25 anos.
Trazendo na bagagem um talento chamado culinária, Salui passou por vários restaurantes na Praia, até ser convidado em 1994 para dar a conhecer os seus dotes gastronomicos à ilha do Sal.
Depois de breves passagens por alguns estabelecimentos locais, acabou por ir parar à cozinha de um dos hoteis mais conhecidos da ilha.
Dedicou-se onze anos a preparar pratos de todos os feitios e maneiras. Até ao dia em que a tal crise chocou consigo de frente.
A viver num quarto com condições minímas, e a pagar uma renda mensal de 180 euros, Salui, desempregado há 6 meses, tenta diariamente que uma porta se abra.
Neste panorama as queixas tornam-se numa bola de neve... Um ciclo vicioso que toca a todos. Várias vozes levantam-se. Se por um lado a crise veio agonizar a situação na Ilha do Sal, por outro há aqueles que defendem que não há condições na vila de Santa Maria. Queixam-se de planos nunca concretizados, de promessas nunca cumpridas. Da falta de infra.estruturas, de iluminação nocturna, de diversão.
Os responsáveis dos hoteís alegam que os turistas não querem sair das unidades hoteleiras, porque não encontram nada na vila e pagam muito caro de taxi cada vez que se dirigem ao centro.
Os taxistas queixam-se de que não há turistas por isso aqueles que encontram tem de cobrar um valor mais alto, já que muito deles pediram emprestimos ao banco para saldar as dívidas.
Os turistas, esses, pagam uma semana por um pedaço de ceu na terra, mas acabam por não corresponder às suas expectativas, ficando confinados às unidades hoteleiras.
Com um lugar previligiado para o filme da crise, os comerciantes da vila também tem uma palavra a dizer. As caixas registadoras estão quase vazias, as despesas de funcionamento aumentam à passagem do tempo e as lojas perdem a graça pela ausência das gentes de outras paragens.
A acompanhar a crise, a falta de investimentos públicos e o abandono da vila, está a problemática do excesso de comerciantes vindos da costa africana. Os senegaleses.
Por todo o lado... em toda a parte. Uma presença que não agrada a todos.
Segundo alguns comerciantes caboverdianos, muitas vezes, mal o turista está a sair do taxi já está a ser abordado para comprar ou ser levado para uma das lojas africanas. E de acordo com algumas vozes "os turistas cansados de tanta pressão e incomodo não voltam à vila mais vez nenhuma".
O Sal, motor da economia caboverdiana, porta de entrada para o mercado europeu e durante muito tempo o diamante do arquipelágo, já viveu melhores dias.
A Boavista, ilha que se está a tornar cada vez mais um pólo de atracção turistica, também já sente os efeitos da crise, apesar de ser a uma escala menor.
Até a capital, Praia, já vive lado a lado com algumas dificuldades financeiras, fruto de uma crise internacional que não faz distinções.
As perguntas que imperam são muitas. Se tem se procurado combater a crise?
Se tem se aplicado boas políticas? E se tempos piores esperam-se em Cabo Verde?
Nha Terra Nha Cretcheu,quarta-feira, 8 de Julho, RTP Àfrica, a partir das 19h15 em Cabo Verde e em Portugal a partir das 21h30.
terça-feira, 7 de julho de 2009
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