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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Cidade Velha - Mais muito mais


A Cidade Velha e os meus primeiros passos num mundo chamado "Nha Terra Nha Cretcheu". Já lá vão quatro anos de "namoro" com a imprensa escrita, por isso estava na altura de "dar um tempo" e correr atrás do meu verdadeiro amor: a televisão. Há quem diga que não há nada como as primeiras paixões... para mim há paixões que nunca se esquecem e a "caixinha mágica" é uma delas.



As festas de Santo Nome de Jesus, realizadas naquela que é candidata a Património da Humanidade, foram o meu passaporte para assistir às primeiras filmagens e às primeiras entrevistas, levadas a cabo pelos melhores. Ainda houve tempo para fazer a minha estreia ao entrevistar o Padre Campos. Mas já lá vamos...

A Cidade Velha e eu travamos conhecimento poucos dias depois da minha chegada a Cabo Verde, já lá vão quase quatro meses. Confesso, que os meus primeiros olhares, sensações e, posterior análise, sobre aquela que em outros tempos, serviu de descanso para Vasco da Gama (1497) e Cristóvão Colombo (1498) antes de prosseguirem pelas suas aventuras marítimas, não provocaram os mesmos sentimentos, aquando da minha visita ao meu lugar de eleição, Tarrafal de Santiago... mas perante a sua carga histórica que carrega há séculos não pude deixar de admirá-la como deve ser apreciada. Uma vénia é lhe prestada... Sente-se no ar as memórias de um antigamente em que descobridores, Reis, cortes e escravos dominavam a película. No exterior, descobrem-se detalhes que viajam pelo tempo. O Pelourinho (erguido em 1520), as ruínas da Sé, o forte Real de São Filipe.


Em breves segundos, imagino os primeiros escravos a desembargarem, importados da Guiné, primeiramente, para o povoamento e como garantia de exploração da terra...mais tarde a escravatura pura e dura. O tráfico para as Canárias, a Europa e as Antilhas. O porto onde se abasteciam os navios que viajavam das Índias ou entre os continentes africano e americano. Tudo cinematográfico, tudo pertences de rastos que hoje dormem sob o peso dos anos. O esquecimento sonâmbulo, vagueia pelas ruas daquela cidade. O eterno mar azul, que ocupou sempre o primeiro lugar da plateia, agora triste, debruça-se pela costa.
Cidade Velha. O berço da “Cabovernidade”. A primeira cidade construída pelos portugueses (1462) em África. A Rua Banana, a primeira rua de urbanização portuguesa nos trópicos. A igreja de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga igreja colonial do mundo, construída em 1495. Por tudo isto e muito mais, candidata a Património da Humanidade. Hoje, falta-lhe a vida de outros tempos... Falta-lhe “vestir-se” de acordo com o seu status. Falta mais obra, mais dinamismo, mais atracção. Mas sem mudar as suas raízes, sem pintá-la com grandes floreados (investimentos) que lhe poderão "ridicularizá-la". Basta apenas um toque... e boa vontade das autoridades competentes.


Terça-feira dia 20 de Janeiro.O meu primeiro dia nas festas. 9h00, o palco para os artistas que irão actuar entre a sexta-feira e o sábado, (Gilito, Princezito, Grace Évora, Ferro Gaita, Jorge Neto) está a ser montado. Espera-se duas horas pelos contactos necessários. Tem de se ir por outro caminho. A desorganização continua a marcar pontos nas Câmaras e afins, apesar dos press release com o programa serem actualizados para as redacções de 10 em 10 minutos. No terreno, a história é sempre a mesma. Não há ninguém que oriente os jornalistas, que informe sobre as actividades. “Tudo ao molhe e muita fé em Deus”. Acto no Convento sobre o Dia dos Heróis Nacionais. O Exmo. Sr. Presidente da República chega uma hora e meia atrasado. Um habitué de Pedro Pires. Uma manhã quase perdida. Motivo: a passividade do “daqui a pouco já lhe dou”, “Estou a chegar ai” e espera-se intermináveis minutos.
À tarde a entrevista com o Padre Campos, na igreja. A minha primeira. Fala-se do significado das festas, das tradições, dos costumes. Breves declarações porque a missa não podia esperar. Passagem em Gouveia. Passeia-se ao sabor da ruralidade. Galinhas, porcos, cães, pés descalços. Gente afável, interessante de se conhecer. Vidas e testemunhos que merecem ser contadas. Crianças que não me apetece deixar.
Regresso. Uma pequena pausa na esplanada enquanto se espera pelo Concurso de Batucadeiras marcado para as 17h00. Uma volta pela pequena feira, situado no centro. Não me enche os olhos. Falta mais... muito mais. Duas horas mais tarde, assiste-se ao espectáculo. Bonito de se ver e de se ouvir, mas ao fim de cinco grupos os ouvidos já não aguentam e a mente já não suporta o cansaço.
20h00, anseia-se pelas horas de sono. Antes de dormir, recorda-se o dia. Cidade Velha merece mais.. Mais organização, mais actividades, mais iniciativas.
Durante esta semana, as festas continuam... e eu lá estarei!

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