sábado, 6 de março de 2010
Poemix que me deixou felix
Uma das coisas que mais me chateia na cidade da Praia é a falta de actividades nocturnas... chega o fim-de-semana acompanhado da pergunta: "Aonde é que vamos beber um copo? ou "O que vamos fazer no serão de sexta-feira? Sempre os sítios do costume, o mesmo ritmo, as banalidades constantes… as mesmas conversas!
E mesmo naqueles locais apelidados “de outsiders”, mas muito cool acabam por cansar ao final de um tempo. Quer-se partir à descoberta de novidades, mas estas tardam em aparecer.
Por isso, quando aparecem eventos como "Poemix - Poemas de nenhum lugar", sentimos que estamos noutra dimensão, a respirar outro ar...Sentimos sim, uma lufada de ar fresco, de contentamento, de um simples assimilar para mais tarde recordar.
O conceito é simples: Pela voz artística de Mito Elias juntando a sensibilidade musical de Binga de Castro, durante cerca de uma hora, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa deu as boas vindas à escrita poética, que se fez acompanhar dos mais diversos instrumentos... Estes embalavam a plateia, com os sons pensados para cada um dos poemas. O vídeo deixava-nos perdidos nos nossos pensamentos… cada um mais livre que o outro.
O entusiasmo verbal de Mito é cativante. Sentiu-se que alma queria saltar do corpo ao recitar os 12 poemas de vários autores cabo-verdianos: Alexandre Cunha, Arménio Vieira, Danny Spínola, Eurico Barros, Filinto Elísio, Jorge Carlos Fonseca, José Luíz Tavares, Mário Fonseca, Mito, Oswaldo Osório, Vadinho Velhinho e Zé di Sant'y'agu.
Houve alguns que me deixaram atordoada: o saudoso Mário Fonseca com uma escrita fora do vulgar tocou-me o coração, o habitual controverso Arménio Vieira fez-me sorrir algumas vezes, Filinto Elisio com as suas letras apaixonadas, mas talvez o mais agressivo mas eficaz o de José Carlos Fonseca, "Praia Cidade Minha", saboroso texto, mas com uma terapia de choque à mistura.
"Viva a poesia" foi a deixa final de Mito e Binga, e de facto não poderia ter sido melhor.
"O objectivo deste evento é procurar realçar a beleza das palavras, dos gestos, das imagens e dos sons que cada escrito sugere, para que a poesia não fique estática e empoeirada nas estantes", escrevia na nota de imprensa.
Não podia estar mais de acordo. Praia, os praienses, todos os cabo-verdianos, e nós os que escolhemos Cabo Verde como a nossa segunda terra, têm o direito de assistir a acontecimentos como este. Iniciativas simples, sem grandes pompas e circunstâncias mas de uma beleza rara perdurante na memória.
No final uma diversidade de sentimentos. O decifrar dos poemas, dos sons, da imagem, da voz... o simples sentir bem, o querer mais e mais... mas depois vem novamente a escolha difícil... onde ir? Não me apetece ir aos sitíos do costume, com os mesmos ritmos, escutar as banalidades de sempre ou desviar-me das conversas habituais… a vontade não era muita, mas lá fui para casa, sem sono e até este chegar lá fiquei a pensar “no silencio que mata” pois “todos os paraísos são artificiais”.
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