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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

"Os Kassabudi" do meio ambiente

Aqui vai a malta num belo passeio pelo interior de Santiago. Objectivo: desfrutar de um pic nic “à moda di nhos”, com direito a tudo, desde a famosa sandoca, à bela da cervejinha, marmelada, pastéis de nata, um manjar propício para um domingo de bom convívio e de descanso.

Destino: Ribeira da Barca, concelho de Santa Catarina. Localidade piscatória, com difícil acesso mas que vale a pena conhecer. Agora não é para falar da convivência dominical que este post foi pensado, mas sim denunciar aquilo que já tantas vezes foi falado, mas ao que parece as autoridades fazem "ouvidos moucos". É o poder dos grandes grupos, das grandes empresas que fala mais alto. A cor do dinheiro que é mais valioso que qualquer destruição paisagística, que qualquer atentado ao ambiente.

Mas vamos aos factos, que esses é que valem por si.

Praia da Ribeira da Barca, ali está para quem quiser ver! Em plena luz do dia, sem medos nem constrangimentos, como se tratasse de um trabalho normal, digno e respeitado… pois lamento informar… a extracção de areia é ilegal. Uma coisa, meus caros, é ouvir falar, outra é presenciar, acreditem que não é um cenário bonito de se ver.

Primeiro take: várias mulheres daquela zona, onde a idade não é importante, por cerca de 10.000 contos por grupo, enchem de segunda a segunda, diversos camiões com areia daquela praia. A famosa lei da sobrevivência entra agora em cena. Sem terem nada para fazer numa localidade fustigada pelo desemprego, enquanto os homens sentam-se à mesa de um qualquer bar para “concorrerem” ao “quem é o campeão do grogue”, elas por sua vezes são aliciadas para realizarem aquele trabalho ilícito, todos os dias, varias horas seguidas, pois o importante é o camião ficar cheio.

Segundo Take: Os condutores dos tais camiões, após cumprirem com a sua "demanda", transportam a areia para as grandes empresas de construção onde esta é vendida a um preço mais baixo do que se fosse exportada. Houve quem me dissesse que não… o preço é o mesmo, mas só que desta forma ilegal dá menos trabalho. A lei do menor esforço prevalece à destruição do meio ambiente.

Terceiro Take: A praia fica digna de um postal envenenado, sem cor, sem magia, despida daquilo que a mãe natureza lhe deu, a perder as qualidades que outrora faziam dela uma paisagem inesquecível.

Ao que apurei o ICIEG está a realizar formações para estas mulheres que se dedicam a este tipo de “trabalho”. É lhes dado um subsídio durante a iniciativa, para que não voltem a recorrer à apanha da areia e no início de cada formação é feito um estudo com as mesmas, de modo a analisar os seus gostos, para depois as direccionar para o curso mais indicado.
Informaram-me também que as mulheres que têm frequentado este tipo de formações estão todas a trabalhar e não voltaram à extracção de areia.

Como se costuma dizer corta-se o mal pela raiz. Mas o grande problema reside no facto de serem as grandes empresas que praticam estes actos vândalos. Sim também as podemos considerar como os “Kassabudi” do meio ambiente, já que vivem sob os mesmos princípios daqueles que roubam diariamente nas ruas da capital.

Lá está… Quem do Governo vai se colocar contra aquelas empresas que muitas vezes são parceiras em varias construções ou que “contribuem” para o desenvolvimento de Cabo Verde?

Retirar as mulheres daquele trabalho já é um começo… um inicio a destacar. Ataca-se de alguma forma o problema, agora não se pode é ficar à espera que um dia por obra do espírito santo a situação se resolva (melhor dizendo que as situações se resolvam já que Ribeira da Barca não é o único exemplo), por isso meus caros nem com as ajudas de todos os santinhos isso vai acontecer… e depois dá-se o inevitável um Cabo Verde a preto e branco nos cartões postais.

1 comentário:

Amílcar Tavares disse...

São bem conhecidas as linhas com que se cozem a política e os negócios...