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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Um hospital psiquiatrico, o teatro e varias maluquices

As vezes basta uma pequena reportagem, após o já habitual zapping, aquando o intervalo da novela, para a atenção ficar presa em histórias invulgares, mas carregadas de um impressionante realismo… vidas autenticas que não nos lembramos que podem existir.

O cenário e o Hospital Psiquiátrico de Lisboa, antigamente conhecido como Júlio de Matos. Os actores são aqueles que pela esquizofrenia, esgotamentos, ou depressões “refugiaram se” naquele local para fugir a sociedade que os atormenta, tal como diz convictamente Estella uma das figuras principais, “não gosto das sociedades”, ou então como o cego Carlos, que há 14 anos frequenta aquela terapia teatral, e para isso diariamente, enfrenta a loucura do barulho e das enchentes de gentes nos comboios e, o stress dos passageiros nos autocarros, para simplesmente chegar aonde mais quer estar: No grupo de Teatro do Hospital.

Aqueles que são considerados por muitos como os “maluquinhos da sociedade” provam que a tal doideira, devaneios, demência, ou insanidade podem ser derrotadas, mesmo que temporariamente, por um simples encarnar de personagens, um magico vestir e despir personalidades… ou um libertar de expressões e movimentos, aprisionados num cérebro cansado, que não compreende a tal “sociedade”.

Eles são diferentes… como todos nos somos, cada um a sua maneira. Criem o seu próprio mundo e dele não saiem, só deixam entrar quem querem, mas isso não implica que não consigam fazer as mesmas coisas, ter os mesmos desejos, emoções, que os tais que vivem na sociedade.

Sentam se numa mesa quadrada para que todos se possam olhar e debater ideias. Os argumentos para as pecas são escolhidos por todos, juntamente com o encenador João Silva. Guiões que pactuam com a sua realidade, que neles transportam as mais diversas frustrações, fúrias, revoltas, medos, mas também, os sonhos mais resguardados ou paixões reprimidas.

Sobem a palco. Teatro Nacional. Espaço esse que acolhe uma peca da grande actriz Eunice Munoz. O receio esta presente nas mãos que suam, ou nos olhares assustados. Vários actores conhecidos marcam presença. Estella antes do final sai de cena. Não aguenta o confronto com a “tal sociedade” de que tanto foge.

Tal como ela diz “não estou preparada para as sociedades”, pois e uma pessoa “com feitio complicado e difícil”.

O outro dia. A imagem regressa ao inicio. Como tudo começou. A mesma rotina Estella passa a ferro, na Lavandaria do Hospital, a roupa dos seus vizinhos amigos colegas. Não abandona o seu mundo e o seu mundo não a quer abandonar. De vez em quando da permissão assim mesma para entrar no universo teatral, deixando a porta meio aberta. Assim sabe que poderá sempre fugir quando já não se sentir bem.

Sem duvida, o Teatro consegue despertar a mais revoltada e confusa mente, enquanto que uma pequena reportagem, sem espaço para muitos efeitos especiais ou muito dramatismo consegue despertar no telespectador sentimentos de pura alegria, de satisfação por estar a conhecer aquelas historias.

Tanto que não resiste longo no final da reportagem em pegar numa caneta e escrever este texto, para que hoje pudesse publicar no blog e partilhar estes trechos de uma reportagem que soube ser fiel ao seu conceito: captar a atenção, informar e no final levar a que se continue a pensar nela.

Nota: A reportagem passou ontem na RTP Africa, no programa 30 minutos, que costuma dar na RTP. Nao captei o nome da jornalista, do editor nem do reporter de imagem mas estao de parabens pelo excelente trabalho

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