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domingo, 12 de abril de 2009

Viva o sujar, comer areia, e fazer tudo o que uma criança tem direito!!!


Mais um dia de Páscoa, mas este ano com "algumas" ligeiras diferenças. Rodeada não pela família de sangue, mas por amigos que já fazem parte do álbum familiar.

Na mesa dos manjares, não houve lugar para as habituais amêndoas torradas, que todos os anos devoro em frente ao televisor a ver mais um filme de Domingo. Nem espaço para os ovinhos de chocolate, e nem para as iguarias tradicionais, como o Folar.

Houve antes muita praia, muito sol, muitas brincadeiras na areia e a seguir uma bela cachupada, que fez o meu estômago chorar de tanto contentamento e a minha balança gritar: "estás abusar".

Ka ten problema!!!! Como diz uma amiga minha quem não é para comer não é para trabalhar!

De manhã, a praia de Quebra Canela estava "sabi". Pouca gente, um areal bonito, um ambiente calmo e tranquilo. À beira-mar, juntamos as grávidas mais algumas mulheres para nos divertimos com as peripécias dos mais novos.

Quando de repente, um dos pequenotes decidiu premiar a banana que estava a comer com muitos grãos de areia, pois acho que seria o condimento necessário para tornar a fruta mais saboroso. O que deixou uma das raparigas preocupada pois "aquilo poderia fazer mal ao menino".

Sempre ouvi dizer: "o que não mata engorda" e actualmente o excesso de preocupação dos pais, tornando-se quase uma vontade obsessiva, faz com que o sujar, o brincar na terra, o colocar as mãos na lama, do antigamente perca a sua essência para o cuidado extremo do século XXI.

Esta situação fez-me lembrar um texto publicado pelo Nuno Markl, esse grande comediante que diz algumas boas verdades sempre com o tal sorriso nos lábios, que recebi via e-mail, aqui vai:

A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida.
E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta.
O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no Tom Sawyer.

'Quem?', perguntou ele. Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus... Como é que ele consegue viver com ele mesmo?

A própria música: 'Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além...' era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.
Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora.
O D'Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas,lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual...

E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração: O Verão Azul.
Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.
Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos:Ele nunca subiu a uma árvore!

E pior, nunca caiu de uma. É um mole.
Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema.
Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos.
Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos.
Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra.
Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção.
Confesso, senti-me velho...
Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador.

Tudo bem, por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft.
Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros.
Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído.

Doenças com nomes tipo 'Moleculum infanticus', que não existiam antigamente.
No meu tempo, se um gajo dava um malho muitas vezes chamado de 'terno' nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse.
Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas, porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos.
Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo.
Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia.
E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade?

E ainda nos chamavam geração 'rasca'... Nós éramos mais a geração 'à rasca', isso sim. Sempre à rasca de dinheiro,sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não falta nada aos putos.
Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de presente de anos e Natal, tudo junto.
Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo.
Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta.
Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos.

Antes, só havia um cromo por turma. Era o totó de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas.
É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada.'
(Nota: ...os chocolates não eram gamados no 'Pingo Doce'... Ainda se chamava 'Pão de Açúcar'!!!)

4 comentários:

Anónimo disse...

E com razão. Há umas semanas, o NY Times noticiava que Babies Know: A Little Dirt Is Good for You!

E eu devo alguma boa saúde à conta disso :))

Unknown disse...

Confeço que fui apanhado a roubar chocolates no Pingo Doce de Linda-a-velha. E, sim, já comi muita areia, voluntária e involuntáriamente. Bons tempos aqueles.

Kiss-Flower disse...

Ler este post me fez retornar á minha infância, com muito risos, brincadeiras.
Sentar à volta da TV, no prédio dos meus pais, em que saltavamos de casa em casa, nos vizinhos, pois todos tinhamos quase a mesma idade.
Agora... é dificil acontecer isso, é dificil conhecer a vizinhança.
Obrigada pela partinha
Bijim

Anonymous disse...

para mim este texto do Markl é um hino para a nossa geração, corresponde na exactidão ao que acontecia e aconteceu a todos os que fizeram parte dessa historia.
e nesse sentido criou-se um cumplicidade que so quem viveu e cresceu com Tom Sawyer, e outros, compreende! :)